quinta-feira, 11 de março de 2010

A benção do perdão

Uma nuvem espessa pairava sobre a alma daquela mãe sofrida...
O seu jovem filho, criado com amor e desvelo, fora assassinado por um amigo dominado pelas drogas.
O desespero e a amargura eram suas companhias permanentes.
Os olhos fundos e a palidez denunciavam as noites de insônia e a falta de alimentação.
Uma amiga a convidou, talvez inspirada pela Providência Divina, a buscar ajuda do orador e médium espírita de extrema seriedade e profunda dedicação ao bem, Divaldo Pereira Franco.
Era início da noite na cidade de Salvador, no Estado da Bahia, quando as duas senhoras adentraram a casa espírita singela, onde o médium atende aqueles que o procuram em busca de consolo e esperança.
Divaldo percebeu que se tratava de um caso grave e atendeu aquela mãe prontamente, com grande ternura.
Aos poucos, a senhora ia contando o drama ocorrido, falando que um amigo do filho o havia alvejado por motivos banais, de ligeiro desentendimento entre ambos.
Enquanto a genitora narrava o seu drama, aproxima-se do médium a benfeitora espiritual Joanna de Ângelis, trazendo o jovem assassinado, ainda convalescente, e diz a Divaldo para transmitir à mãe sofrida, algumas palavras do filho.
Naquele momento o filho, tomando emprestada a aparelhagem fonadora do médium, fala à mãezinha palavras de conforto.
Disse para que não cometesse o suicídio, como estava pretendendo, pois esse crime a afastaria ainda mais dele, e por mais tempo.
Pediu à mãe que se lembrasse da mãe do amigo que cometera o crime e agora estava detido pelas grades da justiça humana, numa cadeia, entre criminosos comuns.
Aquela mãe, sim, era muito infeliz, pois seu filho era o verdadeiro desgraçado e não ele, que agora estava sob o amparo de amigos espirituais atenciosos e fraternos.
Ao ouvir a voz inconfundível do filho querido, que julgava ter desaparecido para sempre, a mulher abraça com ternura o médium, por cuja boca se podiam ouvir as palavras amáveis e lúcidas do jovem assassinado.
Sob a inspiração da benfeitora do Além, Divaldo aconselha a mulher a considerar o estado de alma da outra mãe, da mãe do assassino, e pensar na possibilidade do perdão.
Na semana seguinte, quando o médium baiano se preparava para atender aqueles que o buscavam na singeleza da casa espírita, vê adentrarem a sala duas senhoras, pálidas e de aspecto sofrido.
Uma ele já conhecia, a outra lhe era estranha.
Quando chegou a vez de atendê-las, a mulher, que estivera ali na semana anterior, lhe apresentou a companheira, dizendo ser a mãe do amigo do seu filho.
O médium entendeu que ela havia seguido os conselhos ali recebidos e buscava ajudar aquela mãe mais infeliz que ela própria.
Conversaram por longo tempo.
Ao se despedir das duas senhoras, Divaldo percebeu que um raio de luz penetrava suavemente aquelas almas doloridas.
A luz do perdão se fazia bênção de paz e gerava serena harmonia naqueles corações dilacerados pela dor da separação dos filhos bem-amados, embora por motivos diversos.
Na medida em que o tempo foi passando, as duas mães encontraram motivos para voltar a sorrir, e juntas visitavam o jovem no cárcere.
Fundaram uma casa de recuperação de toxicômanos para ajudar outros tantos jovens a se libertar das cadeias infelizes das drogas.
* * *
O perdão é uma das mais belas provas de confiança nas soberanas Leis de Deus.
Quem perdoa, sabe que Deus é justiça e, por isso mesmo, Suas Leis jamais se enganam.
Perdoar é receber com resignação os fatos que não se pode evitar ou mudar, com a certeza de que a Justiça Divina não se equivoca e nada acontece conosco se o Criador não permitir.

Redação do Momento Espírita, com base em fato narrado por Divaldo Pereira Franco na cidade de Videira-SC, no dia 22/09/03.
Em 29.12.2009.

Amar os inimigos

Será possível estender o amor até mesmo aos inimigos? Este sentimento sublime, que nos torna doces para com o amigo, que nos permite sentirmos felicidade com sua simples presença, será possível de ser direcionado aos inimigos?
O amor é uma atitude interior que se expande como acontece com o ar, que a tudo e a todos vitaliza.
Em se falando dos criminosos, a Lei de caridade diz que devemos ter para com eles compaixão.
Será possível nos compadecermos por alguém que nos tirou a paz, retirando do nosso lado o esposo amado, matando-o em um momento de loucura?
Será possível amar alguém que nos usurpou os bens, enganando-nos e nos deixando na quase miséria?
Analisando a questão dos que nos fazem mal, é sempre oportuno recordar que o criminoso é um doente e em si mesmo já muito infeliz.
Além disso, temos que considerar fatores sociais, econômicos e emocionais que conduzem à alucinação, ao crime e a delinquência.
Punir tais criaturas é reagir com ódio. Cobrar o erro com a vingança é ser pior do que o criminoso. O juiz, que dita sentenças em nome da sociedade, graças aos conhecimentos que possui, deve ser sadio emocionalmente e equilibrado nas suas decisões, a fim de ser melhor do que o criminoso.
O ódio é vingador e a vingança expressa primitivismo do homem. Portanto, não é justiça.
A técnica do amor receita para o delinquente a terapia do afastamento temporário da sociedade, exatamente como um enfermo portador de doença contagiosa.
Precisa ser tratado, para se reintegrar à sociedade dos sadios, depois.
O amor reabilita moralmente o caído, oferecendo-lhe recursos para a recuperação. Permitir que o criminoso repare os males praticados com ações dignas e compensadoras, eis a chave mestra da renovação do mundo.
Matar o assassino não devolve a vida à vítima, nem diminui a saudade de quem lamenta a ausência do amado. Amputar os dedos ou as mãos do ladrão não devolve o furto ao seu dono, que continua lesado.
Arrancar a língua do caluniador não repara os males que a acusação falsa já espalhou pelo mundo...
Quando o amor penetrar o íntimo dos homens, o ódio, que é doença do egoísmo, cederá lugar à fraternidade e à compreensão.
Por isso mesmo é que Jesus alertou: Ouvistes o que foi dito aos antigos: amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu porém vos digo: amai os vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem e caluniam para que vos torneis filhos de Deus sobre a Terra.
Se amardes somente aos que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim também os criminosos entre si e todos os homens de má vida?
* * *
O amor, em qualquer expressão, é a presença do Pai Criador sustentando a vida e dignificando as Suas criaturas.
Um dia, Ele haverá de triunfar sobre todas as circunstâncias e regerá todas as vidas.
Ao estabelecer a Lei de amor aos adversários, Jesus instaurou a era da misericórdia, que haveria de preceder a do amor real.
Ele mesmo viveu durante todo o Seu ministério a Lei do amor e por ela deu a vida.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 4 do livro Luz do mundo e
no cap. 8 do livro Pelos caminhos de Jesus, ambos pelo Espírito
Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 08.12.2009.

A volta

Foi durante a limpeza do quintal. O pai, Bruce, juntava as folhas com o ancinho, recolhia os galhos quebrados pelo furacão da véspera.
Então, olhou para o filho e teve um impulso de abraçá-lo.
Ele o levantou, o beijou e lhe disse como se sentia feliz em tê-lo como filho.
A resposta do menino de apenas 4 anos o desconcertou:
Foi por isso que escolhi você. Eu sabia que você seria um bom papai.
Bruce ficou atônito e pediu que o menino repetisse o que dissera.
É isso: quando encontrei você e mamãe, tive certeza que você seria bom para mim.
Aquilo estava ficando intrigante.
Como assim nos encontrar? Onde você nos encontrou?
No Havaí.
O pai sorriu e esclareceu que os três tinham estado no Havaí no ano anterior. Mas o garoto replicou:
Não foi quando todos fomos ao Havaí. Foi quando você foi sozinho com mamãe.
E continuou, acrescentando detalhes:
Encontrei vocês no grande hotel cor-de-rosa. Vocês estavam na praia, de noite, jantando.
Realmente, Bruce e a esposa tinham estado no Havaí em 1997, para comemorar seu quinto aniversário de casamento.
Tinham se hospedado num hotel de cor rosa, na praia de Waikiki. E tinham jantado ao luar, na praia, na última noite de sua estada.
Cinco semanas depois, a esposa descobrira estar grávida.
O filho descrevera tudo com perfeição.
Como poderia saber? Aquele não era um assunto que os pais comentassem, não com aqueles detalhes.
* * *
O fato não é isolado e acontece com muitas crianças que surpreendem os pais com informações de um tempo que antecede o seu nascimento.
Não é raro, o garotinho olhar para a mãe e dizer: Quando eu era grande, carreguei você no colo.
Quando eu morava na outra casa, eu tinha muitas joias. E um carro muito bonito. Eu sempre viajava nele porque ele era confortável e grande.
Ou a menina olha o álbum de fotografias antigas e, de repente, apontando para uma foto de sua avó, ou bisavó ou tia-avó, exclama:
Olha eu aqui!
Nossa, eu era bonita, né?
Tais discursos partem de pirralhos, de crianças pequenas, de forma espontânea.
E, da mesma forma que assim se expressam, deixando boquiabertos os que os ouvem, retornam aos interesses da idade e às falas próprias da infância.
É como se um flash acendesse na memória, detonando uma lembrança, que é expressa com espontaneidade.
Tais fatos confirmam o que ensina a Doutrina Espírita. Vivemos muitas vezes.
E escolhemos nossos pais, antes de renascer, por questões afetivas, de aprendizado ou alguma necessidade específica.
Pais e filhos não somos Espíritos estranhos uns aos outros. Somos viajores do tempo, através das muitas vidas, no rumo do grande bem.
Redação do Momento Espírita, com base em dados colhidos
no livro A volta, de Bruce e Andréa Leininger com
Ken Gross, ed. Best Seller.
Em 03.03.2010.

A lição do carvalho

Era um velho carvalho no meio de uma grande floresta. Há alguns anos, uma enorme tempestade o deixara quebrado e feio. Jamais conseguira se reerguer, como as demais árvores.
Quando a primavera chegava, o adornava de flores novas e verdes e o outono tomava o cuidado de pintá-las todas de cor avermelhada.
Mas os ventos inclementes sopravam e levavam todas as folhas e nada mais podia disfarçar a sua feiura.
A árvore foi se sentindo esquecida, abandonada, sem utilidade.
E um enorme vazio tomou conta dela.
Quando o vento do outono passou por ali, ela se lamentou: Ninguém mais me quer. Não sirvo para nada. Sou um velho inútil.
Mais alguns dias se passaram e, na proximidade do inverno, um pica-pau sentou-se em seu tronco e começou a bicá-lo, de forma insistente.
Tanto bicou que conseguiu fazer um pequeno furo, uma portinha de entrada para sua residência de inverno, no tronco oco do carvalho.
Arrumou tudo com muito bom gosto. Aliás, estava praticamente tudo arrumado. As paredes eram quentinhas, aconchegantes e havia muitos bichinhos que poderiam alimentá-lo e aos seus filhotes.
Como estou feliz em ter encontrado esta árvore oca! Ela será a salvação para mim e minha família no frio que se aproxima.
Pouco tempo depois, um esquilo aproximou-se e ficou correndo pelo tronco envelhecido, até achar um buraco redondo, que seria a janelinha da sua casa.
Forrou por dentro com musgo e arrumou pilhas e pilhas de nozes que o deveriam alimentar durante toda a estação de ventos gelados.
Como estou agradecido, falou o esquilo, por ter encontrado esta árvore oca.
O carvalho passou a sentir umas coisas estranhas. As asas dos passarinhos roçando em sua intimidade, o coração alegre do esquilo, suas patas miúdas apalpando o tronco diariamente fizeram com que se sentisse feliz.
Seus ramos passaram a cantar felicidade. Quando chegou a época das chuvas, deixou-se molhar, permitindo que as gotas escorressem por seus galhos, lentamente.
Aceitou a neve que o envolveu em seu manto por muitas semanas, agradeceu os raios do sol e a luz das estrelas.
Tudo era motivo de felicidade. A velha árvore redescobrira a alegria de servir.
* * *
Ninguém há que nada possua para dar. Ninguém existe que não possa fazer algo a benefício do seu irmão. Um sorriso, uma prece, um gesto, um abraço, um agasalho, um pão.
Há tanto que se fazer na Terra. Existem tantos aguardando a cota do nosso gesto de ternura. Ninguém inútil ou desprezível. Cabe-nos redescobrir a riqueza que em nós existe e distribuí-la a quem dela necessite ou espere.
* * *
Se nos sentirmos solitários, em meio às dificuldades que nos alcancem, aprendamos a estender sorrisos nos caminhos por onde passarmos.
Antes de nos amargurarmos e cobrar gestos de carinho de amigos e parentes, antecipemo-nos e doemos a nossa cota de amor, ainda hoje, permitindo-nos usufruir da alegria de dar e dar-se.
Redação do Momento Espírita, com base no texto
A árvore solitária, de O livro das virtudes, v. 2, de
William J. Bennett, ed. Nova fronteira.
Em 10.03.2010.